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domingo, 27 de novembro de 2011

No encalço, A lucidez perigosa




Dela:

3:22am - Ela estava sentada na janela do seu quarto. Concentrava-se em ouvir a respiração da cidade moribunda. Não era difícil. Era confusão e aí se fez mais uma impotência. Alguns pensamentos se fragmentavam por demais altos na sua cabeça. Estava escuro lá dentro, no quarto. Desde os primeiros minutos da sua solidão não se convenceu daquele breu. Mas continuou, quase que numa tentativa de acionar qualquer luz na sua mente que vagava em impropérios. Não conseguiu.

03:48am - Como parecia difícil se desgrudar de qualquer vestígio, mesmo que artificial, de luz. Aquela escuridão era sua. Como o velo que transpassa a morte. Como nada. Um infinito vazio desdenhando seus passos trôpegos, amordaçados por uma cidade vazia e luz artificial.

03:50am - O candelabro estava no único lugar que a cidade, de lá, parecia querer desvendar. Mais um tanto de luz artificial. Ela, num reflexo moribundo como a cidade, avistou o candelabro no canto esquerdo do seu quarto minúsculo. Fazia tanto tempo que ele estava ali às teias. Percebeu uma necessidade. Não lembrou dele,  nem em muitos dos seus momentos de torpor. Do divisível. Acendê-lo e preencher de vida o objeto morto da sua morada, parecia tão estranho visto dali. Sob a luz artificial. Era um ângulo de exaustão dormente. Era morte. Pensamento se movendo alto demais.


Dos corpos:

3:53am - Dispunha de dois palitos. Eram dois e estavam comungados na mesma caixa vazia. Pensou como um risco em não acender. Não gastar um palito ou outro. Tudo estava próximo, comungado e só. Eles, incapazes de alçarem suas próprias flamas um no outro. Ela, tão apática quanto sua própria existência...


Do símbolo:

3:57am - Um pensamento. Contemplou o fogo minúsculo se diluir e enfim, num vácuo quase ininterrupto não alcançar o chão da sua mente. Que infinita gravidade é pensar as vezes!  

4:10am - E se a chama não inflasse? Enquanto pisava no encalço da sua mente sem preito, segurou um dos palitos. E numa reflexão pugnaz decidiu acender os dois. Pegou-os. Sim, estavam juntos.  Era tão difícil sentir algo dali, no entanto aqueles corpos eram existência e... estava tão escuro. Eles de alguma forma que parecia compreensível na sua mente, eram divisíveis. Uma coisa na outra. Incendiada no ressoar de um pensamento vivo, pensou no nirvana de suas simples existências acesas.

4:12am - O fogo que ela procurava era uma chama que incendiasse, nem que em miligramas, o seu corpo vil.  Nunca antes quis atiçar fogo naquele candelabro. Não. No entanto, se lembrou dele.

4:17am - Pegou a pequena caixa. Guardiã dos corpos. Olhou atentamente o candelabro empoeirado e assoprou três vezes. Como num movimento comungado, contemplou os objetos na sua frente. Primeiro o candelabro, depois a caixa e os corpos. Depois de  perigosos minutos, ela entendeu...


Do quarto:

4:48am - O quarto naquele instante não era corpo. Nem objeto. Era flama tão suave quando impetuosa. Dançava em labareda ardente. A comunhão no fogo, tudo a um só tempo. Tudo se movendo em ardência e corrosão. Ela não viu outra saída para si. O silêncio agora ardia em estalos finos, faíscas dançantes saiam - da sua janela pra cidade moribunda. O escuro continuava em algum ponto inalcançável. Estava entre o fogo. Nenhuma luz artificial no candelabro. Nem corpos. Nem objetos. Nem mesmo o equivoco da fala que faísca apressada, nos corpos. As palavras ressoaram nela sem o fragmentos de outro instante. Era sua a maior voz. Assim, deixou-se queimar.

Eram as primeiras horas do dia em que o sol se alinhava a sagitário. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CÁTODO



 Na internet, carências, traumas, sonhos e experiências são expostos mais do que para constituir a identidade, mas para reafirmar-la à partir de ilustrações bem ornadas. Cátodo aborda a relação do jovem com a tecnologia (em especial com a internet) e o reflexo dessa gama de relações interpessoais que são representadas a partir desse universo íntimo, de características idiossicráticas da juventude contemporanea.


Com Mirela Gonzalez
Por Alana Barbosa e Isbela Trigo

segunda-feira, 21 de novembro de 2011



dente de trator
seio da terra
filho de concreto
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domingo, 20 de novembro de 2011

sentido in verso

Não há dormência nesse sítio plácido
nem há estado plácido que permaneça um tanto mais
tudo se move
pequeníssimos fragmentos do instante
em comunhão, apresentam o inverso,
e no verso da descoberta
vejo o pacto
como que dançando só


Para isso não há esquecimento
nos ruídos dos transeuntes alarmados,
não há dormência
- Eu sinto, são fibras tensas
esse caminho é só mais um caminho,
e efeitos vários não naufragam o barco vazio,
esse é o sentido do vento invertido


Pequeníssimas gotas juntas abaixo
se pactuam num efeito maior
- e não há dormência
nem mesmo no caminho exaustivo
ele é demasia, beira a agonia e pede descanso


como é o balanço plácido do barco?
quando ele não se cobra em avançar
também avança?


Em um silencio mais perceptível,
num mar sem caminhos traçados
há o intervalo das ondas?


algum barco em silêncio
em meio a imensição em gotas, agora, se move?


e as condições inversas da dormência, comovem?