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sexta-feira, 25 de maio de 2012

vértice cadente em horizontes visíveis


A parte do tempo pacto
é limite inexato
pros dedos que discorrem 
em estáticas prateleiras 
de enfileirados


lunáticos, apoteóticos
sádicos, tuberculosos
vida que se move
em cada letra enfileirada 
da prateleira cinzenta


a asa quebrada 
que tenta o voo
é a exatidão na palavra
que devora o limite 
e contradiz o conto
que se conta
                    
                    sempre


vértice cadente 
em horizontes visíveis

quarta-feira, 16 de maio de 2012



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espremo o sol e sugo 
o sulco: nas horas solares 
tento ver o rumo 
do silêncio que flamba
os poros abertos
de uma flor de cactus


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Liquidez

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embebe-me
extremada de desejo
doce sulco em tua boca
que me exala

salivo-me
de teu beijo por entre
as dobras das pernas 
trêmulas em notas
parafrase-ais

culmino sem pressa
nem adorno
o primitivo fôlego
de um corpo revertido
em liquidez

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no teu sexo
minha sedenta 
malícia, abocanhada 
à um desordem melódica
que conduz

cerro os olhos, gustação
chega forte por entre 
os lábios. Me seduz
uma faminta infantil
de astúcia voraz:

embebo-te inteira
como se não houvesse
limitação, na desmesura
nossos corpos líquidos
sediam a loucura

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sexta-feira, 11 de maio de 2012



a   n  v erso



A lua de ontem
 meu híbrido desejo
 um bucado de areia
nas dobras dos pés


A noite hoje 
frondosa desmesura
melodia trêmula
do preenchido convés


Caixas, lâmpadas, fitas
 cabide, tecido que estiro
 no sol pendurado
a minha pele úmida




Um beijo no asfalto
quente lampejo
fogueira de objetos
na sola das mãos




na ponta dos dedos 
 dentes trincados
 de gelo, de aço
mordidos no não


amasso, trituro, engulo
não desce, mordo  
a língua sem saliva 
não desce


gorfo fragmentos, reponho 
 o alimento na boca:
 até as vias, todas
           respiro 


rever so
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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Os incrédulos nada tem a ver com a poesia. Crer não é apenas pressuposto religioso, é façanha da imaginação... ou penetramos no curto-circuito da lembrança e juntos criamos, ou ficamos desmemoriando como um cego com seu carro de realejo.
Quem não crê, ainda desconhece o poder que as mãos e a alma têm de ver.
No campo de batalha só repousam os mortos... e os que, com o chumbo de caça da memória, vão abatendo. 


E as sobrancelhas, estão velhas para conter o amanhecer?

Lívida

Ela carrega no torso o peso 
impune da sua cabeça
fere-se e goza com palavras 
feitas de alturas e profundezas
da beleza que está no miolo 
de uma vastidão oca
dentro do que não tem dentro


Ela é suave e feroz
foi engolida pela escuridão
pensando que é assim que se foge dela


A beleza dos homens é indiferente aos deuses 
ela está no reino de Perséfone sem vê-la
igualmente indiferente


O divino não alcança a mão do homem 
que se lança na escuridão
ela é um anjo de asas quebradas
e eu sou seu voo


Essa beleza é natureza corrosiva
indiferente aos olhos
dos homens que ditam belezas
é um corpo facetado por abutres
existente apenas para quem
não está impune da feitura desmesurada 
e egoísta dos homens


Ela está numa sala escura 
de profundas alturas
e espelhos  rachados
ela está numa sala preenchida 
de palavras feitas por anjos 
de asas quebradas
ela é


Eu sou o seu reflexo