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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

no balaio de vestes o personagem carece de luz acesa

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você sente o consílio
se fechar sobre o manto
que cobre o corpo diminuto
em precariedade
sob um céu voraz?


o corpo engole
uma, duas, três
vestes bem ornadas
e vomita pérolas
sobre um tapete
de trapos e remendos


quando consigo captar
uma fração líquida
desse olhar teu
sinto o flagelo
das almas preenchidas
de anverso no verso


mas quando tu estendes
as mãos pequenas
em cilíndricas ondas
antes éter, agora mel fresco
vejo-te almejar um canto
numa sala clareada de girassóis


e não adiantas o passo
se é rasa a vértice
e movediça


a luz artifício
que deságua quando
a onda rarefeita acorda
o corpo silencioso
é linda


e finda
o pensamento estendido
num varal colorido
de vestes bem ornadas


no balaio de vestes
o personagem carece
de luz acesa



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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

escuta de lua minguante

se um dia
na relva verde de um forro
na escadaria de um palácio
ou na solidão morna 
de um quarto
sentir-se menos embriagada
pergunte ao relógio
às estrelas, à lua
a que tudo fala, que geme,
que rasteja
nas pequenas coisas que
grandes virtudes perpassam
qual é o feito que lateja
no caminho da omoplata
no olho que dilata
a realidade banal
do que te cerca

de quem te conta

menos embriagada 

de dois elos partidos

o sorriso parido que
beija a imensidão

do contato constato

que de fato meu tato
te incita o incesto

na labuta, esquecido

os cães de carnaval 
devoram suas lembranças

o peito bate forte

-tu parece menino pequeno
 descobrindo a imensidão

nos olhos um brilho fundo e

nítido
perpassa a multidão
os gritos inauditos
os solos e as celas que virão

uma teia ferina 

que te cega
que te sina
batucando o coração

não te contes só o martírio

dentro, forte, um vestígio
e a constatação

pensar é um fascínio

mas no teu corpo tem um filho
que te pare 
imensidão



Zé, eu.



segunda-feira, 3 de setembro de 2012


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se posso dizer-te algo
digo que a tarde cái
e as cores são várias
tragando uma nuvem
distante e espessa

o barulho existe
mas podes calá-lo
com um simples gesto

quando a noite chegar
o menino dos teus olhos
te trará uma canção

tentarás mais de uma vez
a argola no entorno

e cansarás do tesouro
de cristais
diante do homem

mas não te afogarás em tua agonia

porque quando a noite chega
vem com ela os mistérios
e bem o sabes

que o canto da noite
traz o rito, a miragem
a brandura do silêncio
que se cabe 
indivisível

em ti

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