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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

eu céu - ria rio

no azul tinindo do dia
o rio preto comigo ria

uma rajada de vento manso
bateu e enlaçou
ele, eu

emergi então
da terra
dos pensamentos fixos
das pedras

e fui ao encalço rasante dos céus
das águas que rio:

teto de universo
não é concreto
me dizia o passarinho

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Órbita do anzol (prelúdios da lua. Eu)

Deixe-me falar. Estou presa do prelúdio da lua cheia. Ela está no topo. Ela está lá, devidamente alinhada ao topo da minha cabeça. E não sei exatamente que perímetro. Sinto. Ela, alinhada, conduz seu anzol que está devidamente alinhado ao topo da minha cabeça. Brinca, dança lá de cima. Eu percebendo seu ferino movimento rotatório. É também fluido. Eu sinto porque minha cabeça pende da linha do seu anzol e eu estou dançando com ela. A linha que mede essa ligação é invisível. Como movimento de nós.
Nós dançamos juntas. Lá de cima ela me dança o pacto. Eu de cá espero sua face abundante, sem me ansiar. Se não. Se é. Então é. Nós dançamos comungadas pelo anzol. O anzol que apruma minha coluna arqueada. Ela me deixa mais bela. Alinhada a linha do anzol. Ela.
Eu ouço as pequeníssimas gotas prateadas e sólidas, sua borda preencher. Ela sabe da minha espera, mas me deixe dizer. Por vezes, é como que dançar só.  Ela. Sái do topo o anzol. Minha coluna arqueada. Eu não me solto e por vezes dói. Continuo dançando como se ela não existisse depois do horizonte. Arqueada.
Ela me puxa mais uma vez. Agora é para que eu sinta a redoma do mundo nela. Eu só quero nascer novamente, mas tenho que esperar ela no topo. O mundo é muito e eu tenho muitas perguntas. Porque não sei ao certo como essa redoma foi criada. Então eu espero por ela e acompanho. Sentir. Ela. Lembro-me da face estéreo. Onde está Diana. 
Flecha.
O arco que me puxa o topo da cabeça... A coluna arqueada.
Não a vejo. Sei das gotas sólidas a preencher. Prateadas. Quando ela me puxa do horizonte, sinto um golpe sinestésico. E ela me chega, novamente grandiosa. Suas próprias gotas sólidas de horizonte circular. Eu entendo um pouco mais. Vou dizer. Ela me puxa agora pelo topo até minha cabeça. Mas já fizemos o trajeto da rota do mundo.
Agora ela me puxa o topo da cabeça e o sexo. Me derrama a subjacência do clarão das fogueiras. O sangue que agora bebo. Menâdes. Eu danço, prateada e abrasada à minha lua. Nesse momento eu transformo nosso anzol em algo visível. Condutor de nós.

sábado, 10 de dezembro de 2011






- Sou de lua

A lua, trova redonda,
que a noite canta no céu
nos perenos versos
dessa noite ao léu

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ode àÔ Guebó

É mundo o moinho
palavra cata vento
não de mansinho
- de turbilhão

Eu vou recapitular
mi si dó lá

eu vou sentir
lá dó si mi

e no vento marujo
misturo um tanto
do que gosto
do que desgosto

mas eu gosto mesmo
é de estar por aqui
na misturas dos corpos
celestes
óculos
minha lupa pá pá
de mar

ressonância astigmata

acordeão dos tortos
corta pêlo
fica morto
e não pára de crescer

transformo os módulos
em ondulações
do passarim
que não pousou
vuou vuou...



(a-cor-dou-me)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Também serei poeta de um mundo caduco.
Se o condutor pode ser guiado, quero aposentos no lar do meu país.O meu país está caduco. Quero comida que sacie essa fome. A vida. Quero preencher de substrato alguma alma vã. Penso mais uma vez nos transeuntes. Alarmados. Sós. Penso na flor do asfalto, só. No sorriso do homem que conduzia sua cria, quando catavam os restos do meu almoço e ainda me sorriam... sós.
Eles me fizeram pensar que entre o nada e a eternidade existe um intervalo... e esse intervalo ainda é eternidade. É fluido. Vida. Música cor de ar. Dessa que não necessita de visão, no entanto, toca: A incapacidade de qualquer outra obra de arte.




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Tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura - o objeto - que, como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito. Tal pintura contenta-se em evocar reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência.

                                                                                                       Michel Seuphor




(Acordar é ir-se para dentro)
Sutileza do caos I

domingo, 27 de novembro de 2011

No encalço, A lucidez perigosa




Dela:

3:22am - Ela estava sentada na janela do seu quarto. Concentrava-se em ouvir a respiração da cidade moribunda. Não era difícil. Era confusão e aí se fez mais uma impotência. Alguns pensamentos se fragmentavam por demais altos na sua cabeça. Estava escuro lá dentro, no quarto. Desde os primeiros minutos da sua solidão não se convenceu daquele breu. Mas continuou, quase que numa tentativa de acionar qualquer luz na sua mente que vagava em impropérios. Não conseguiu.

03:48am - Como parecia difícil se desgrudar de qualquer vestígio, mesmo que artificial, de luz. Aquela escuridão era sua. Como o velo que transpassa a morte. Como nada. Um infinito vazio desdenhando seus passos trôpegos, amordaçados por uma cidade vazia e luz artificial.

03:50am - O candelabro estava no único lugar que a cidade, de lá, parecia querer desvendar. Mais um tanto de luz artificial. Ela, num reflexo moribundo como a cidade, avistou o candelabro no canto esquerdo do seu quarto minúsculo. Fazia tanto tempo que ele estava ali às teias. Percebeu uma necessidade. Não lembrou dele,  nem em muitos dos seus momentos de torpor. Do divisível. Acendê-lo e preencher de vida o objeto morto da sua morada, parecia tão estranho visto dali. Sob a luz artificial. Era um ângulo de exaustão dormente. Era morte. Pensamento se movendo alto demais.


Dos corpos:

3:53am - Dispunha de dois palitos. Eram dois e estavam comungados na mesma caixa vazia. Pensou como um risco em não acender. Não gastar um palito ou outro. Tudo estava próximo, comungado e só. Eles, incapazes de alçarem suas próprias flamas um no outro. Ela, tão apática quanto sua própria existência...


Do símbolo:

3:57am - Um pensamento. Contemplou o fogo minúsculo se diluir e enfim, num vácuo quase ininterrupto não alcançar o chão da sua mente. Que infinita gravidade é pensar as vezes!  

4:10am - E se a chama não inflasse? Enquanto pisava no encalço da sua mente sem preito, segurou um dos palitos. E numa reflexão pugnaz decidiu acender os dois. Pegou-os. Sim, estavam juntos.  Era tão difícil sentir algo dali, no entanto aqueles corpos eram existência e... estava tão escuro. Eles de alguma forma que parecia compreensível na sua mente, eram divisíveis. Uma coisa na outra. Incendiada no ressoar de um pensamento vivo, pensou no nirvana de suas simples existências acesas.

4:12am - O fogo que ela procurava era uma chama que incendiasse, nem que em miligramas, o seu corpo vil.  Nunca antes quis atiçar fogo naquele candelabro. Não. No entanto, se lembrou dele.

4:17am - Pegou a pequena caixa. Guardiã dos corpos. Olhou atentamente o candelabro empoeirado e assoprou três vezes. Como num movimento comungado, contemplou os objetos na sua frente. Primeiro o candelabro, depois a caixa e os corpos. Depois de  perigosos minutos, ela entendeu...


Do quarto:

4:48am - O quarto naquele instante não era corpo. Nem objeto. Era flama tão suave quando impetuosa. Dançava em labareda ardente. A comunhão no fogo, tudo a um só tempo. Tudo se movendo em ardência e corrosão. Ela não viu outra saída para si. O silêncio agora ardia em estalos finos, faíscas dançantes saiam - da sua janela pra cidade moribunda. O escuro continuava em algum ponto inalcançável. Estava entre o fogo. Nenhuma luz artificial no candelabro. Nem corpos. Nem objetos. Nem mesmo o equivoco da fala que faísca apressada, nos corpos. As palavras ressoaram nela sem o fragmentos de outro instante. Era sua a maior voz. Assim, deixou-se queimar.

Eram as primeiras horas do dia em que o sol se alinhava a sagitário. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CÁTODO



 Na internet, carências, traumas, sonhos e experiências são expostos mais do que para constituir a identidade, mas para reafirmar-la à partir de ilustrações bem ornadas. Cátodo aborda a relação do jovem com a tecnologia (em especial com a internet) e o reflexo dessa gama de relações interpessoais que são representadas a partir desse universo íntimo, de características idiossicráticas da juventude contemporanea.


Com Mirela Gonzalez
Por Alana Barbosa e Isbela Trigo

segunda-feira, 21 de novembro de 2011



dente de trator
seio da terra
filho de concreto
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domingo, 20 de novembro de 2011

sentido in verso

Não há dormência nesse sítio plácido
nem há estado plácido que permaneça um tanto mais
tudo se move
pequeníssimos fragmentos do instante
em comunhão, apresentam o inverso,
e no verso da descoberta
vejo o pacto
como que dançando só


Para isso não há esquecimento
nos ruídos dos transeuntes alarmados,
não há dormência
- Eu sinto, são fibras tensas
esse caminho é só mais um caminho,
e efeitos vários não naufragam o barco vazio,
esse é o sentido do vento invertido


Pequeníssimas gotas juntas abaixo
se pactuam num efeito maior
- e não há dormência
nem mesmo no caminho exaustivo
ele é demasia, beira a agonia e pede descanso


como é o balanço plácido do barco?
quando ele não se cobra em avançar
também avança?


Em um silencio mais perceptível,
num mar sem caminhos traçados
há o intervalo das ondas?


algum barco em silêncio
em meio a imensição em gotas, agora, se move?


e as condições inversas da dormência, comovem?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

indissolúvel constante

Seria eu, recônditos tempos
senhora da hora que me afaga em densa tormenta?
estaria eu prestes a fugir desse limbo movediço
da imagem presente e vil,
para de alguma emersão ressurgir?


Naquele imaginado pretérito
os dias não eram assim mudos
a calma da hora não era motivo de agonia
eram sulcos de um lago plácido, era estado
e mesmo no seu demasiado conforto e palidez
era profundo


Das descoradas horas que se fazem incompreendidas,
um sumo de vértice pra algum ponto
não indica o passo, mesmo o perdido
apenas essa calma, que agora de nada é triunfante


E no Agora, que nem mesmo sei
nessa hora de insólito e indissolúvel constante
dou o meu inconsciente passo bambo
no Luna Parque, que ainda me mantém

sábado, 15 de outubro de 2011

A BICICLETA E UNS DESEJOS

Eu queria mesmo ter uma bicicleta
dessas que podem guiar o caminhar
que chegam perto do lugar
na forma de plularizar


eu queria ter uma bicileta
que me levasse pra bem perto - de mim
quando estivesse naquela calçada a divagar
no choro manso que escorre em valas
na minha cidade vazia,
ela me tilintaria algum despertar-lugar


assim, enfim seria
o movimento que secaria
antes mesmo de brotar


as duas rodas seriam meu passo
ao passo do que se pode alcançar
o banco seria meu assento
daqueles que só me cobram o repousar


e nas correntes, uma infinidade
de possíveis voltas:
as ladeiras que subirei,
o saber da marcha moldar
algumas horas, frearei
sentir de respiração que farfalha


e do saber esquivar
se por acaso
algum encalço desregular se anuciar:
eu só saberei enfim
quando a minha bicicleta
eu puder guiar.

domingo, 9 de outubro de 2011

Uma forma de arfar

Me encontro passeando em palavras tuas.Caminhos do pensamento abotoados em lembranças. Pensamentos que alinhavam os caminhos. O meu tempo no seu.
Nas bordas das folhas pequenos fragmentos anunciam sua vinda, enquanto eu caminho a fim de encontrar qualquer sonho deste lugar que de algo me preenche. A lua me olha em sua face quase completa: um despertar de abundante luz macia e mistério que salienta.
Cartas, bordões, janelas, papéis que se vão, imagens que ficam, uma menina, duas rodas de bicicleta, criações e descobertas.
Motins, frestas, calos e cicatrizes.
Horas selecionadas, lapidadas ao puro gosto das palavras.




Por vezes a chama do cigarro me tira o pensamento. Foco em como os fios rodopiantes seguem alto e evaporam num caminho qualquer. Assim que a chama se apaga, rodopio no meu próximo pensamento, que de um ângulo diferente ainda és tu.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

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se cada passo segue sua rota
e a rota agora se faz
na permissão de sublimar
- o que me custa
num impulso leve
saltar?
.
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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A ROTA DO PONTO

a roda da hora não espera nem demora
de ponto em ponto só repete
- cada ponto no seu lugar

um que corre, ligeiro segundo
o outro a divagar...

e só quando os passos
se põem à deriva
- não o ponto do ponteiro
mas a unidade desmedida
é que o tempo
vira dimensão

ao sabor da rota
que se alinhava
de um ponto que se pensa

terça-feira, 6 de setembro de 2011

do movimento
grávido de tempo
a forma de vida
dá vida à forma


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

multidão de um

acompanhe-te e descubra uma multidão
mais vale uma idéia advinda de ti
do que de um turbilhão
de faces inaudíveis
de frestas isoladas
do manto que cobre
a multidão de outros
que não tu...


acompanhe-te e descubra uma multidão
muitas vezes enfurecida
outras vezes canção
mas sempre tua
face de espelhos
sombras, anseios
um terreno isolado
a ser plantado
grãos


acompanhe-te e descubra uma multidão

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

dedos discorrem e do que se moldura
deuses e demônios presentes
como em qualquer lavratura...


quando o tempo marujo chega e a hora é demasiada
cometo o pecado original do sem erro
me vicio, me formulo
como uma página virada


na borda da folha, percebo
nada é tão real que possa perdurar
nesse dia sem sol
a queda é um passo


entre a guerra e a dança, que saiamos ilesos
da falta de virtude sem fala
do pecado nomeado, do nó
não da embarcação


um sopro de vento
vai longe
e não se sabe mais...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Não negue pros olhos
o que a mente demanda sedenta
Não precipite a sentença




É preciso lidar com as palavras
agourentas
que retiras de ti.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

cada esquina tem seu canto

Cada esquina
se projeta ilesa
pelas horas silenciosas
dessa tarde que divaga






A fuga rotineira
dos corridos dias
contempla a cidade
vazia
.
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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Leve é a pena que transcreve no leito dos sonhos por vir
o motim do real contraposto assombra
a sombra do presente
mas do que vale a palavra se não surte efeito?
do que valem os sonhos sem a realidade eminente?
fazer da sombra leveza que contrapõe
regar os enseios como quem se dedica ao crescimento
urgir com o vigor as metas alcançadas


paLAVRA
faz do teu combate, luta que desarma
motim que emerge
da verdade que desloca
exala e modifica


pois leve é a pena.
__
sorriso
em lua arado
o prelúdio
da lua cheia
__

terça-feira, 26 de abril de 2011

A palavra que não muda
cansa
da repetição sem palavra
mudada


sem mudança
cansa
a palavra que não muda
e se repete


e se muda
se repete


palavra repetida que cansada
muda
cansa a palavra
muda
e não repete
..

sábado, 26 de março de 2011

Ando me alargando
saboreando
vivendo saberes
criando saberes
emergindo do lar
dos meus pensamentos,
de reminicências
acomodadas na sofá azul
tilintante
dos meus deletérios
e tudo vem se transformando
em inspiração


- inspiração pura que brota -

quarta-feira, 16 de março de 2011



humano se mostra
no descompasso
de ímpetos forasteiros
e se declara
real e imperfeito
.
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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011



Meu coração marinheiro


mergulha sorrateiro


desagua no teu mar




...




Quero aurora colorida


teu sorriso matutino

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Minhas palavras ao chegarem
por vezes soam ríspidas
como pedra de amolar faca
solto-as com a firmeza que julgo aguentar
penduro-as no ar
como quem projeta a imagem
que desfocada se faz
e somente julgo compreender
porque na desmazela
da furiosa ventania
prefiro me alimentar da verdade
dura e autêntica que amola facas
prefiro-as de frente
como que reluzindo sua existência
a ser o alvo do golpe
que no escuro inexplicável
se projeta
no escuro que pelas costas atinge


prefiro o golpe da verdade dura
à frustração de crer
numa verdade vã