.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Até o vento tem memória de passado


Trafegava dessa vez em curvas tempestuosas e planicies galgadas, como por vezes fazia. E como quem desbrava em ritmo comum, ia... Em sinal verde dirigia com a segurança de um bom olheiro, daqueles que no além depositam seu foco, pois em seus caminhos os trajetos se faziam intimamente ligados, como um conhecimento apenas premeditado.

Sabia internamente seu poder em saber valer a idéia, por isso também, fazia de atalhos seu grande lance de sorte (atalhos reduzem um tanto os muitos caminhos que concluem). Pelo atalho, numa repentina forma, tudo se desvenda com a astúcia que finda. A última palavra chegava encerrando um dos tantos trajetos.

Gostava do vento que batia em sua face e sabia que isso aguçava também um tanto de aventura. E por vezes pisava, acelerando com curisidade o que se fazia de aventura e de vento. Correndo com a sagacidade de quem quer e vive e com o querer de quem na intensidade chega.

Mas até os lances de sorte que acompanham-se de atalhos e sinais verdes se gastam. E num desses bordejos, daqueles que janelas bem abertas olham tudo o que passa, e o vento a recebe apenas como a intensidade naquilo que bate e passa causando boa sensação, ela enfim se rendeu e passou a faixa do que é fixo.

O amarelo se desfez inconstante de atenção e o vermelho se apresentou, tingido, profundo e permanente, enquanto ela ultrapassava aquela marca dos caminhos. Caminho tem sua hora de chegada, tem sua hora de partida.   
Até o vento tem memòria de passado...

Recebeu a multa de quem apressadamente se faz além e não teve a última palavra, apesar de o ter achado primeiramente. Pra ela ninguém errava por querer - Esse é o argumento, seu guarda.

E foi ele, um sábio ou apenas um guarda de trânsito que disse-lhe que ninguém errava por querer mas era preciso ter cautela, porque sinais amarelos mostram-se dianteiros à verdade que vem e - É preciso ter cautela dona moça.

Ela ao fazer não percebeu a grandeza que ultrapassou, não por hora. Mas quando perpetuou aquele momento enfim descoberto, cocluiu que sinais existem mais do que para evitar falso atalho, eles tornam os lugares de alguma forma subjetiva existentes e verdadeiramente fluídos como tudo que se faz em vida. E desta vez sendo um falso atalho, precisou o maior caminho para que percebesse.

Ela queria correr com o vento e o sinal se punha vermelho, rubro, sangrando.

domingo, 28 de novembro de 2010

O último trago

Aqui, com um tanto de fome, o último cigarro olha pra mim como quem sacia sem esperar a morte.
É o último e eu já estou inserida nesse desejo. Antecipadamente penso no que me falta e ainda existe. Antecipada, a mente traga o que se apresenta em memória de outrora e conduz.
É o último. Com um tanto de fome olho pra mim em resgate daquilo que deixei-me esquecer. Ou matei como brasa que incendeia e só como brasa alcança seu ápice... chama brilha, quando o vento atiça, leva rápido ao fim.
E quando só a luz dele é existente, quando só a luz dele canta em desenhos no ar, da ponta dos dedos numa trajetória que vai aos lábios e sacia a fome, esse reflexo em reflexão dança. E como ímpeto corriqueiro, se mata simultânea à última tragada. Que não é a única a ser derradeira, pois memórias sorrateiras também se apresentam em conclusão.
Últimos cigarros, memórias sorrateiras e conclusões sempre virão como quem sacia e espera a morte.

domingo, 21 de novembro de 2010


Alquimia de mescla
em medidas
certeiras
No olhar
dá cor
com sabor
de beleza




::::::::::::::::::::::::::::

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Hoje me destes uma poesia como quem trafega em estrada curva desconhecida. Como quem trafega no desconhecido que na composição faz-se doce. Hoje me destes uma poesia. Dessas que esquentam a alma. Que preenchem a solidão. Que deixam a visão turva de beleza...
Te espero nos meus  longos, curtos, curvos e muitos caminhos. E te conduzo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Teremos sempre paredes brancas para colocar novos cartões postais.


Estaremos

preparados

para

essas

paredes?



Prefiro saber de onde virão novos cartões postais.

O relógio de compromissos guardados, ressoam exalando tempos vindouros de uma Paulicéia desvairada ou de uma Pasárgada desconhececida, com suas estradas de tijolos amarelos de Dorote... ou nos jardins floridos de Alice a passear com a lucidez de Shihiro e com desejo avoador do João do pé de feijão. Porque em dias de chuva e sol, dias de casamentos de raposa e de major, a beleza é dada no espelho que desconstroi o que sempre vem a ser denominado pelo deus do ego.

Nós, sementes. Vida de peixe a nadar em laje de sol, de alimento de pássaro que, com pés firmes permitem-se voar numa cidade ainda desconhecida pelos sonhos. Que com pés firmes e asas abertas permitem-se semente também ser, sabendo que em paredes brancas também existem cartões postais brancos de uma coisa ainda por fazer.



Alana, Alex.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Minha lembrança de ti
se esvaiu como as horas da noite
silenciosa, passada e vagarosa

Uma aurora vem minunciosa
destacando cada raio que se mostra

O sorriso sempre permanece
mas nem só de sonho se constrói o despertAR.
.
.
A resposta desfaz a ilusão
simples questão de um humano coração
.
.
.
.
Coloco pra frente meus rascunhos
passo à limpo,
reconstruo.
.
.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DiLírio


O brilho
no olho
que aceso
dilata
transpassa
um tanto
 além
de mim.

Firme
odor
começo
do sim.

Palpébras
lentas
movem
mistério
que reverbera
no além...

de odor e
diLírio.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

... até a nuance.

Quando transcrevo e conto
ou quando simplesmente conto
como se não existisse sítio adequando
ou que todos fossem pra essa lembrança,
transcrevo

Numa missão apenas expressiva
do que as horam plantam
no concreto enraizado e fluído
que vem de dentro
em constante movimento

- No fluído dessa escrita
minha sensação -

de toque de alma que acerta
e a respiração que aos tímpanos chegam suaves
de mãos sorrateiras
em sono tranquilo
acariciando-se...
... a acariciar.


(a aurora anuncia-se)

...
e como a noite, o dia chega
... de cores diversas.

.
.
Cabrocha suave
me chega
cheirando à flor do campo...
.
.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Segundo

:..:..:

São onze horas de toda manhã
tomo café e mastigo a sensação
se que os ponteiros se estendem
as horas se lançam
- posto que aqui é possível viver mais -

Trafego pela pirambeira íntima
esta minha epiderme reflexa
lançada ao chão dos atalhos
de poros, lama e luz
que caminho sobre mim
(pinsando-me em expansão).

Um piano ressoa entre bananeiras
e um pássaro preto inside:
seu som é mais natural

Quem vai ligeiro
encontra o fim rápido.

:..:..:

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Latente

E se nua, insinua, esvanece
agora bate incerto:
pula, pulsa, mientras permanece


"Em algum lugar dentro de seu cérebro, ele pareceu sentir o cheiro da madressilva mais uma vez, apesar de nenhuma das flores ali ser perfumada e o único cheiro existente ser um fraco odor de escapamento de diesel"


Pulsa, carece
flama pêlo dedo
sente a sede na saliva


...declama enquanto inflama
no chão a cama, aclama


e chama a chama...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Instante

Existem inúmeras maneiras de falar da mesma coisa.

Existem diversas goteiras insistentes.

Existem diversas bacias acolhedoras.

Num canto do quarto um múrmurio contrastante
num canto da sala o silêncio do entardecer
ou amanhecer, já que as primeiras horas se fazem agora.
É noite de um novo dia,
do entardecer de uma bela noite.

Um risco de fósforo,
o trago da vida.
A lâmpada bem encaixada numa corda de colares
azúis, brancos e todas as cores...





Cabides se deixam suspensos, imovéis.


domingo, 11 de julho de 2010

II - Enraizado e fluido

Olhando daqui de dentro, colhendo de mim, me vejo inconstantemente apaixonada... pelo que vivo sei, mas se esvaira tão repentinamente que por vezes me pergunto em que realidade se encaixa. Palpável sei que é, mas agora longe e um tanto vazia me questiono até onde chega e que realidade é essa que só se mostra preenchida enquanto lateja existente... e num compassar de segundos e na minha solidão tenho e vejo apenas a mim: fiel e descobridora de mim mesma.
Se o real soluvelmente se faz nas horas e que horas podem denominar eternidade, creio. De paixões imediatas que como ondas se fazem e como ondas se vão, como um sopro que atinge e se dispersa.

Um relógio e seu ponteiro me vejo agora: O dos segundos, que eloquente procura completar seu ciclo, mas que ao chegar já está em outra hora.

sábado, 10 de julho de 2010

I Enraizado

Olhando daqui, da minha janela azul desbotada das horas, a noite mais parece um velcro que me fecha, me inunda, me dilacera... Essa noite que seria calma se não fossem os cachorros que latem incessantemente em comunhão; carros que passam esporádicos, porque a hora demasiada da noite e cedo da madrugada os faz assim. E na fotografia urbana o mosaíco de casas do outro lado da rua, que até a semana anterior se fazia apenas conhecido daqui, da minha janela azul desbotada e um tanto poética... num conhecimento mais do que imaginado, mas vivenciado, lá, do outro lado, me deu a conclusão de que a poesia não atinge todos porque só alguns tem o dom de tornar lúdico um tormento.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

De canções que com alguma alegria e cheiro de saudade compomos pra nós

A hora exata anuncia memória fresca:
vinte e duas horas, em ponto.
Frescor de mata que mata a fome,
fonte inquieta de desejo e de bocejo desajeitado.




As estrelas como imensidão de mar
marcam essa história que transita de mesa quadrada
para que agora,
enquadradas em gestos,
numa mesa redonda de vejam:
fluidas...




No grito sutil da madrugada
almas preenchem-se de afeto e almejam flores...
Magenta.
e nessa saudade que se conforta
tecido de pétalas e resquício de estrada
me vem no cabelo embaraçado
do embalo de torpor que achamos.






Lembra que em beira de rio se banham cantorias que ressoam na imensidão?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sexta- feira-vermelha-agoniante

Essa canção se faz na lembrança do dia anterior. Dia em que os teus me envolviam que suave empatia e eu me assistia saudosa, como quem procura em todos os cantos, como quem acha em cada canto uma forma de relembrar...
Palavras minhas te chamavam em pensamento e isso reverberou em frases iguaizinhas que clamava aos teus. Ou meus, já que neles via um tanto de ti e um monte de desse saudosismo que não era unicamente meu, mas deles também.


... E te procurei. E te contemplei numa ânsia que reconheço de minha face apaixonada. Te quiz como quem deseja verdadeiramente... e me respondestes com palavras mudas que não eram pra mim, mas sei que me procuravam. Essas palavras me inquietaram como um formigueiro morno, como quem espera da aurora uma surpresa - te esperei - e continuei a te esperar acompanhando o sol em sua rota limiar... até desfalecer e me deixar raios incandescentes que, é claro, me fizeram lembrar-te.


Saudei a cidade nascer de luzes e movimentos, até cochilar, até adormecer... e eu continuei a esperar, e essa continuidade jaz nessa agônia que se derrama agora em mim.


Espero como quem sauda esse sentimento e faz juz à sua inquietude avermelhada.
Como quem carrega a paixão, te espero.


Mas isso foi ontem. Quero agora e pra amanhã!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Em suma

Ah, ligeiros pensamentos me chegam!
como o despertar de velhas sensações
o valor do que é real unicamente.
Essa intimidade que faz parte de mim também
e de mim conheço melhor do que outrem...


Reconstruo.
Sabendo que o que nutriu permanece
intacto na memória viva,
como se cada vivência fosse fragmento
de uma grande construção... e o é.


Ma(i)s avante é que está o longe
com surpresa e colibri
canções mansas de cetim...




Sonhos também constrõem o despertar!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Visionando

O dia raiou sem sol
mas nuvens cinza-fosca
se mostraram com alguma cintilância inibida.
Como essa verdade que ansiei a tempo
e a tempo não me vinha.
Chegou devagarinho...

Madrugada hoje, de pequenas, grandes respostas
de definitivo querer...
... aos poucos minha certeza de antes se esvai
como as palavras que dediquei a ti,
como a esperança que depositei em nós.

Sinto-me densa e curiosa.

Um passarinho canta bem próximo.